quarta-feira, 7 de março de 2012

Pina em 3d...

Estou ansiosíssimo para ver o filme.  Por enquanto, um ''tequinho'' do que vem por aí.


Belo tributo.




O website do Wuppertal Tanztheater anunciou, na manhã do dia 30 de Junho de 2009, que a sua directora e coreógrafa faleceu, aos 68 anos, vítima de um cancro pulmonar fulminante diagnosticado  dias antes.
Ainda no domingo 21 aparecera no palco da Wuppertaler Opernhaus e, para além de um estranho cansaço, nada previa que, a semana passada, tivesse dado entrada para fazer alguns exames e não mais abandonasse o hospital. O inesperado da sua morte chocou todo o Mundo da Dança, pois era considerada não só um ícone como uma artista que revolucionou a maneira de ver e fazer a própria dança.
Alta e pálida, invariavelmente vestida de escuro, Philippine Bausch – que o Mundo conhecia por Pina Bausch - usava o cabelo comprido a apanhado atrás, tinha olheiras profundas e acompanhava-se regularmente de cigarros. Companheiros que a ajudavam a esconder a timidez e ocupam as mãos, quando confrontada com jornalistas e fotógrafos que, sempre que podia, evitava.
Tinha um ar distante e triste e, muitas vezes, o seu rosto era o espelho de grande parte da suas obras que pareciam assentar em pressupostos depressivos. Não gostava de falar de si e, muito menos, das suas peças - “stucks”, assim lhes chamava.
Perguntaram-lhe tantas vezes (e em tantos lugares) a razão deste ou daquele bailado, como se desenvolvia o seu processo coreográfico - imitado por milhares de artistas em todo o planeta -, como escolhia os seus intérpretes e como explorava os seus medos e sentimentos, que qualquer entrevista era uma mistura de suplício e desafio para quem interrogava e, sobretudo, para quem estava cansada dessa obrigação que o seu difícil ofício também exige.
Depois de vários livros escritos por alemães, italianos, norte-americanos, franceses, ingleses e escritores de outras nacionalidades, pouco havia para perguntar mas, as respostas, essas, eram tudo menos triviais.
Nascida em Solingen em 27 de Julho de 1940, começou aos 14 anos com um dos mestres da dança moderna alemã, Kurt Jooss, na escola de Essen, para a qual voltaria em 62, depois de uma passagem pela famosa Juilliard School, de Nova Iorque. Aí estudou com Antony Tudor, que muito a influenciou, e até dançou obras clássicas. Contudo, o seu estilo, viria a seguir uma direcção muito diferente, quando começa a coreografar no Folkwang Ballet (de Jooss) que dirige de 69 a 73. Em 74 funda a sua única companhia, o Wuppertal Tanztheater, que se tornaria um marco na dança da segunda metade do século vinte. Desde então produziu, em média, um espectáculo por temporada. O seu primeiro grande êxito surgiu em 75 com uma inusitada (e sensual) produção de “A Sagração da Primavera”, em que o palco estava coberto por terra molhada e os bailarinos em roupas que acentuavam as formas dos corpos. Três anos depois, cria outra peça de referência, “Café Muller”, em que solidifica um novo estilo, a dança-teatro, herdeira da Dança Expressiva alemã. A sua reputação não mais parou de crescer e os seus trabalhos, baseados em sentimentos de angústia, alienação, frustração e crueldade, punham, sistematicamente, em causa ideias pré-concebidas associadas ao género e ao sexo.

A sua frase mais famosa resume bem aquilo que pensava que era primordial no movimento e que fez questão de salientar nos seus espectáculos. “Não me interessa como os meus bailarinos dançam mas sim o que os faz dançar”. Porém, não era bem assim, já que escolhia, sistematicamente, para o elenco da sua companhia bailarinos de formação clássica mas que fossem bons “performers” e, de preferência, que tivessem uma personalidade vincada.

A sua contribuição para a ópera foi significativa a também a sétima arte teve um pouco da sua mão. Participou no filme de Fellini “E la nave va”, dirigiu “O Lamento da Imperatriz” e sequências de obras suas apareceram no filme de Pedro Almodóvar, “Fala com Ela”. Aquando da sua estadia em Lisboa, para a criação de “Masurca Fogo”, Fernando Lopes registou todo o processo criativo num documentário intitulado "Lissabon/Wuppertal/Lisboa". Desde Setembro de 2008, que o cineasta Wim Wenders trabalha numa biografia cinematográfica de Pina Bausch. Um documentário que se espera estar concluído nos próximos meses.
O seu acervo coreográfico, durante mais de três décadas, permaneceu uterinamente ligado à companhia de Wuppertal tendo apenas vendido uma obra, a “Sagração da Primavera” para uma única companhia, o Ballet da Ópera de Paris.
A primeira vez que veio a Lisboa, para os VIII Encontros Acarte em 94, trouxe um conjunto notável de obras e o sucesso foi retumbante. Voltaria várias vezes, designadamente em 98, ano em que criou, a convite da Expo, a belíssima peça “Masurca Fogo”. Não terá sido a primeira obra em que demonstrava um certo bem estar com a vida mas a verdade é que a luminosidade de Lisboa, a melancolia dos lisboetas e as idiossincrasias dos seus habitantes dos subúrbios terão inspirado em Pina uma das mais belas obras que criou nas várias cidades em todo o Mundo onde fez residências artísticas. Em Maio do ano passado foi-lhe dedicado um “Festival Bausch” no Teatro Municipal S. Luiz e no Centro Cultrural de Belém, na capital portuguesa.
Sobreviveu-lhe um filho, Rolf, que teve do cenógrafo Peter Pabst - colaborador que a acompanhou no início da sua carreira e lhe deu enorme apoio antes de falecer, quando o talento e o trabalho de Pina estavam começando a ser verdadeiramente reconhecidos - bem como o companheiro, Ronald Kay.

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